
Título: Eva (Trilogia Eva #1)
Autor(a): Anna Carey
Editora: Galera Record
Nº de páginas: 288
Nota:
A guerra dos sexos está apenas começando... No futuro, uma praga mortal aniquilou a população da terra. Homens e mulheres seguem segregados. Os meninos são mandados para campos de trabalho forçado. As meninas, para Escolas onde aprendem uma profissão chave na reconstrução mundial. Mas as aparências enganam... E Eva está prestes a descobrir que a verdade pode ser muito mais terrível do que o vírus que varreu seu país. Está prestes a descobrir que seu futuro pode ser mais parecido com a da primeira mulher a levar seu nome.
Eu ando meio tarada com distopias esse ano. Quando soube que passamos na Galera, vi que ia sair a continuação e corri pra ler Eva. Ainda bem, eu não ia me perdoar se não desse uma chance à Anna Carey.
O mundo está destruído após uma praga que dizimou a população. Apenas algumas pessoas sobreviveram, e um homem se levantou para reorganizar a sociedade, tornando-se o Rei. A necessidade de repovoar e reestruturar as cidades fez com que meninos e meninas órfãos fossem separados; aqueles foram enviados para campos de trabalho forçado, estas são isoladas em Escolas, sendo bem tratadas, nutridas e ensinadas para exercerem uma profissão. Só que a verdade é muito mais profunda e horrível do que elas podiam imaginar.
A praga está levando todos os que tomaram a vacina. Não há mais voos. Não há mais trens. Eles bloquearam as estradas que saem da cidade, e agora todos nós devemos esperar. Os telefones e a internet caíram há muito tempo. As torneiras estão secas, e as cidades estão perdendo energia elétrica, uma a uma. Logo o mundo inteiro estará às escuras.
Ao ver uma colega preparada para fugir da Escola na véspera da formatura, Eva - a melhor aluna e oradora da turma - decide ver o que tinha causado aquela reação cruzando o lago que separa as estudantes das formadas. O que vê ali faz com que ela comece a questionar todo o sistema no qual viveu durante anos: as meninas são criadas para se tornarem parideiras. Com a ajuda de uma professora, Eva foge rumo a Califia, um refúgio para meninas, mas a vida fora dos muros da Escola pode se revelar bem complicada e traiçoeira.
O caminho para Califia é tenso: os recursos são escassos, o medo impera, a falta de noções de sobrevivência minimiza as chances de sucesso. Mas Eva dá sorte de encontrar Arden, a colega que fugiu, e Caleb, um fugitivo dos campos de trabalho que mora em um esconderijo de meninos. Tá sentindo cheiro de romance no ar? Eu também, só que não vai ser tão simples assim. Na Escola, as meninas têm aulas como "Perigos de Meninos e Homens", "Escravidão Doméstica" e "Mentalidade de Gangue"; como entraram muito novas, não lembram ou pouco recordam de homens adultos, então temem qualquer indivíduo do sexo masculino, exceto o Rei.
Agora voltemos pra Caleb. Ele teve toda uma paciência pra lidar com Eva, já que ela até então achava que todo homem não prestava, que iria querer se aproveitar dela e só. Aos poucos, seu jeito protetor e irônico foi vencendo os medos e receios dela. Não foi nada "uau" nem meloso, mas compreensível devido à diferença de mundos em que ambos viveram desde a infância.
- Eu faço um negócio engraçado, às vezes - disse ele, lançando-me um sorriso travesso. - Eu abro um livro e olho para cada página. Chama-se ler.
A narração é em 1ª pessoa, então acompanhamos Eva o tempo inteiro, entendendo aos poucos como ela foi criada, o porquê de tanta ingenuidade e a transformação pela qual ela passa. É a desconstrução de tudo em que ela creu durante praticamente sua vida toda, a reviravolta em suas atitudes e conceitos, a necessidade de se arriscar, testar os limites e descobrir verdades. Não dá nem pra compará-la a outras protagonistas distópicas porque essa questão sexista faz com que ela seja totalmente diferente.
Tantas coisas haviam sido tomadas de mim: minha mãe, a casa de telhas azuis onde eu dera meus primeiros passos, aquelas telas acabadas empilhadas contra a parede da sala de aula. Mas isso era o mais doloroso de tudo, o controle sendo arrancado da minha mão.
Arden é uma personagem que merece destaque. Ainda que de maneira tímida, sua história é desenvolvida paralelamente. Nos apegamos a ela tentando entender seu comportamento agressivo e rindo de suas sacadas e respostas.
No caminho para Califia, novos problemas surgem. Se antes ela tinha pavor dos homens, agora seu receio era se separar daquele que ama. Se antes ela tinha comida em abundância, agora ela precisava ir atrás de alimento. E tudo isso sempre acompanhada pelo medo de ser capturada e levada de volta ao mundo irreal no qual ela seria apenas mais uma parideira.
Os portões da Cidade se abririam e se fechariam atrás de mim, outra jaula. Jaula após jaula após jaula.
Eu sou extremamente insensível pra chorar com leituras (só 4 livros conseguiram essa proeza), mas teve uma cena que me deixou com a garganta apertada. No esconderijo há 2 menininhos, muito carentes por serem tão novinhos. Eles acabam se apegando demais à Eva, e o momento em que ela parte é tenso, não só pela despedida em si, mas pelo modo como foi. Se a narração fosse em 3ª pessoa ou alternada para algum dos meninos, mostrando o que acontece após a partida de Eva, provavelmente eu teria chorado mesmo. Silas e Benny me conquistaram instantaneamente, desde a primeira aparição, e torço demais pra que eles apareçam nos próximos livros.
Apesar de tudo isso, alguma coisa fez com que eu não conseguisse evoluir bem na leitura. Sei que a história é boa, que tudo se encaixa direitinho, que o próximo volume tem tudo pra me conquistar, mas acredito que eu não estava num bom momento, e isso fez com que eu demorasse muito a ler. Talvez isso tenha me feito não adorar o livro, mas, como eu disse, foi mais subjetivo do que relativo ao conteúdo.
A capa chama atenção pela beleza e pelo significado contido. Ela retrata as passagens em que Eva de fato precisou passar por pontes, em especial o capítulo final, mas também mostra metaforicamente o desafio que Eva encara pela primeira vez de transpor suas crenças, ultrapassar os limites até então conhecidos e chegar a um novo mundo de verdades cruéis e novidades surpreendentes.
A revisão está boa, padrão da Galera. E não posso falar sobre a diagramação porque li em e-book (tem alguém aqui desesperada pra ter o livro na estante?).
O amor era o único adversário da morte, a única coisa poderosa o bastante para combater sua força urgente e arrebatadora.
Utilizando o tema guerra dos sexos, Anna Carey soube criar um mundo distópico diferente, inovador, explicando os motivos que causaram o caos. Além disso, ela soube dosar romance e ação, de modo a deixar o livro dinâmico e não enjoativo. Todo fã de distopia precisa ler esse livro.