Título: A Playlist da Minha Vida
Autor(a): Leila Sales
Editora: Globo Livros
Nº de páginas: 312
Onde comprar:Submarino | Saraiva | Americanas
Nota:
Elise Dembowski nunca foi popular na escola. Ninguém conversava com ela na hora do intervalo nem a convidava para sair no fim de semana. Pior. Ninguém jamais se interessou em saber o que tanto ela escutava em seu iPod: playlists com o melhor da música pop, único território em que Elise se sente confortável e confiante.
Diante de seu desajuste em relação à maioria, a adolescente tenta de tudo – inclusive a mais radical das saídas, felizmente sem sucesso. No auge de seu solitário desespero, o acaso a leva até a porta de uma balada noturna, via de acesso para um mundo completamente novo, cheio de som e diversão, no qual sua veneração por música funciona como senha para inclusão em um inédito círculo de amizades.
As festas noturnas do Start – o melhor clube underground do mundo – tornam-se o lugar onde a felicidade, a aceitação social e até o amor são possíveis para Elise. Não demora muito para que um misterioso bullying eletrônico e a habilidade da garota como DJ coloquem em confronto este universo com a dura realidade cotidiana.
A playlist da minha vida é uma vibrante fábula pop que lida com temas recorrentes nas obras contemporâneas para jovens: exclusão, invasão de privacidade, resgate de autoestima e muita trilha sonora. Escrito pela americana Leila Sales, o livro se ambienta em dois cenários: o escolar, com sua dinâmica de poder juvenil baseada em “popularidade”, e o da cena noturna, em que adolescentes ensaiam seus primeiros voos para uma existência adulta.
A vida de um adolescente já não é muito fácil, mas quando não se tem amigos e - pior! - ninguém gosta de você, as coisas ficam muito mais complicadas. Após a 4ª série, Elise viu os colegas se afastaram dela e não teve mais com quem conversar na escola, então resolveu fazer outra reviravolta e de fato estudou pra ser popular. Dedicou um período de férias inteiro pesquisando tendências da moda, aprendendo nomes de celebridades e ficando por dentro dos assuntos que as meninas da sua idade sabem. Até gastou suas economias pra comprar roupas descoladas. Só que nada disso deu certo! Cansada de ser sempre ignorada, ela toma uma atitude radical, que de fato chama a atenção de todos. Mas o que era pra ser um grito de ajuda acaba se tornando motivo para aquela palavrinha recente que expressa uma atitude bem antiga: bullying. Se antes Elise era ignorada, agora ela é alvo de olhares, comentários atravessados e pressão dos pais. E como se não fosse o bastante, surge um blog que parece ser escrito por ela, que obviamente não é nem um pouco legal.
Apoiei a cabeça na janela e chorei. Isso parece um sinal de fraqueza? Você faria melhor? Ótimo. Vai nessa. Manda ver. Mas o que você não entende é o seguinte: quando você é detonada sem dó nem piedade, dia após dia, sem descanso, ano após ano, às vezes a única coisa que resta é a capacidade de chorar.
Sua reviravolta acontece meio que sem querer, num local que ela nem imaginava existir. No meio da noite, em um galpão abandonado, surge a Start, uma discoteca onde ela conhece pessoas novas, descobre novos gostos e tem seus primeiros relacionamentos de amizade e amor. É ali que ela pode mostrar a playlist da vida dela atrás da mesa do DJ.
Às vezes, temos aqueles dias em que tudo dá errado. Mas, às vezes, alguma coisa pode dar certo da maneira mais inesperada possível.
Preciso dizer que eu esperava um livro completamente diferente. Apesar de a capa brasileira ser linda, a combinação das cores alegres com o título bonitinho me passavam a ideia de um romance, algo mais pra cima, mais divertido. No entanto, ao ler a história e depois ver o título e capa originais, percebi que houve uma drástica mudança de sentido que foi responsável por criar uma expectativa errada em mim. "This song will save your life" tem muito mais a ver com a essência do enredo, já que a música realmente tem um papel impotante na vida de Elise - fora o jogo de palavras que só é possível no inglês mesmo.A proposta do Clube é discutir o livro, mas, ao contrário do mês passado, dessa vez não conseguimos ler no mesmo período e consequentemente não discutimos tanto. As conversas acabaram sendo inbox, compartilhando nossas experiências e abrindo o coração contando nossos traumas e dificuldades. Esses bate-papos foram essenciais pra eu enxergar o livro com outros olhos.
Durante toda a leitura, tive um olhar muito crítico, acusando Elise de ser passiva, de fraquejar diante das dificuldades, mas depois eu parei pra me colocar no lugar dela e percebi diversas semelhanças, além de entender suas atitudes em circunstâncias que eu nunca vivi. No meu período "no friends", descontei toda a ansiedade, tristeza e frustração na comida. Ela tomou outros caminhos, mas a motivação era a mesma. Também entendo o que é ser filha de pais separados e a cobrança além do normal em questões aparentemente tão banais.
As pessoas são aquilo que são. Não importa o quanto você tente, é impossível transformá-las naquilo que você quer que elas sejam.
Assim, percebi que o bullying é apenas um dos temas do livro. A autora trouxe debates interligados, como distanciamento físico/afetivo dos pais, guarda compartilhada, autoaceitação, capacidade de se mostrar uma pessoa pra família e ser outra totalmente diferente... São tantos assuntos atuais e relevantes que daria várias sessões de terapia.
Agora falando da música em si... Elise tem um gosto bem peculiar, influenciado pelo pai, que fez sucesso com sua banda na juventude e até hoje continua tocando, mesmo que já não tenha mais tanto público. Achei bacana a diagramação usar a tal playlist; no começo de cada capítulo tem um trechinho da letra de uma música que combina com a personagem e a história (se você quiser ouvir, tem a playlist completa aqui, é só apertar o play e soltar o som). A editora também teve um cuidado em acrescentar notas explicativas para situar o leitor em relação a personalidades e costumes da cultura americana, além de comparar as diferenças de expressões idiomáticas entre inglês britânico e americano com o que a gente vive em relação a Portugal. Só não curti mesmo o que já falei em relação à capa e ao título.
Mesmo com a frustração inicial e uma posterior mudança de percepção, o livro não me agradou em cheio. Acredito que o fato de eu não ter a mesma idade da protagonista pesou para eu não me conectar tanto ao livro, então li até a 1ª metade bem devagar e só depois consegui engrenar. Parece contraditório dizer que a narrativa em 1ª pessoa é de leitura fácil, o texto dialoga com o leitor, há bastantes metáforas
No geral, a mensagem que o livro passa é bem legal, e justamente por isso recomendo a adolescentes, a pais de adolescentes e a todo leitor que goste de histórias mais densas, com temas que causam bastante reflexão. Vale a pena sim.
PLAYLIST
De cada capítulo:
Wonderwall; Oasis
Here It Comes; The Stone Roses
Unloveable; The Smiths
Dancing In The Dark; Bruce Springsteen
This Charming Man, The Smiths
Get Me Away From Here, I'm Dying; Belle and Sebastian
Born Slippy (NUXX); Underworld
Come On Eileen; Dexys Midnight Runners
Whoo! Alright - Yeah... Uh Huh.; The Rapture
La Familia; Mirah
Age Of Consent; New Order
How Soon Is Now?; The Smiths
All My Friends; LCD Soundsystem
Baba O'riley; The Who
I Saw Her in the Anti War Demonstration; Jens Lekman
Lived in Bars; Cat Power
Once in a Lifetime; Wolfsheim
Mis-Shapes; Pulp
You! Me! Dancing!; Los Campesinos!
You Can’t Always Get What You Want; The Rolling Stones
Bônus:
Girls and Boys; Blur
Temptation; New Order
A Letter to Elise; The Cure
A Quick One, While He’s Away; The Who
It's the End of the World as We Know It (and I Feel Fine); R.E.M.
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