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O Vilarejo - Raphael Montes

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Título: O Vilarejo
Autor(a): Raphael Montes
Editora: Suma de Letras
Nº de páginas: 96
Onde comprar:Submarino | Saraiva | Americanas | Casas Bahia
Nota:

Em 1589, o padre e demonologista Peter Binsfeld fez a ligação de cada um dos pecados capitais a um demônio, supostamente responsável por invocar o mal nas pessoas. É a partir daí que Raphael Montes cria sete histórias situadas em um vilarejo isolado, apresentando a lenta degradação dos moradores do lugar, e pouco a pouco o próprio vilarejo vai sendo dizimado, maculado pela neve e pela fome. As histórias podem ser lidas em qualquer ordem, sem prejuízo de sua compreensão, mas se relacionam de maneira complexa, de modo que ao término da leitura as narrativas convergem para uma única e surpreendente conclusão.

Com uma mente brilhante, Raphael Montes deixa de ser apenas um autor para se tornar parte integrante de O Vilarejo. Aqui ele se apresenta como alguém que recebeu um caderno escrito em cimério, uma língua que realmente existiu antes de Cristo e já morreu. Intrigado, ele vai atrás de desvendar a história ali descrita e descobre um Professor que o presenteia com um dicionário da língua, mas lhe recusa ajuda. Por algum motivo, todos que encontra pelo caminho lhe dizem para esquecer tal escrito. O que será que a falecida Elfrida Pimminstoffer pode ter escrito de tão assustador? É isso que nós vamos descobrir.

Na realidade não existe uma história em si, apenas contos que se interligam. Eles se passam em um vilarejo esquecido, que foi isolado pela neve e vem se degradando cada dia mais. A fome, o frio e a completa miséria levam os moradores a revelarem o que há de pior em si, sem qualquer reserva, até que atinjam a ruína total.

O vilarejo vem sendo dizimado a cada dia. As mortes são frequentes e o luto se sentou à mesa. Ninguém chora os mortos. Não podem desperdiçar energia lamentando a partida dos que não suportaram o frio e a fome.

São um total de sete contos que, apesar de narrados sem forma cronológica, se interligam de maneira surpreendente, levando a um único desfecho. Cada conto está ligado a um pecado capital e, por consequência, ao demônio que o desperta nas pessoas. Leviathan (Inveja), Satan (Ira), Belzebu (Gula), Lúcifer (Soberba), Asmodeus (Luxúria), Belphegor (Preguiça) e Mammon (Ganância). Será que só eu me lembrei de O Exorcismo de Emily Rose?Porém, se você é medroso assim como eu e tem algum receio de iniciar a leitura, pode se tranquilizar. Todos esses nomes são um mero detalhe que vão fazer diferença, ou não, apenas na conclusão da trama. Saber que cada conto é sobre um pecado capital e que eles influenciados por algo do mal é informação suficiente para você.

Narrado em terceira pessoa, o autor é suscito e inebriante. A narração fora de ordem foi um dos pontos que mais me instigaram, pois foi possível ver a degradação dos personagens de forma inversa conhecendo-os já no seu pior momento, para depois ser apresentado a um eu menos perverso. Cada conto é focado em um dos moradores do vilarejo e apresenta seu início, meio e fim, ao mesmo tempo que todos juntos formam uma única história com um final que vai te fazer revirar as páginas atrás do detalhe que você deixou passar. A todo instante eu me peguei querendo mais histórias, mais detalhes... Não sei se um livro maior teria acabado com encanto do livro, mas quem sabe né? Talvez um série de televisão? #ficaadica

Falando sobre diagramação e ilustração, a editora arrasou muito! As primeiras páginas de cada conto são pretas e trazem o nome do demônio relacionado ao pecado abordado nele. As demais folhas são brancas e algumas trazem manchas de sangue. O ilustrador foi Marcelo Damm, e o tom sombrio das histórias ficou bem marcado em seus desenhos. Há neve, mas também muita escuridão. Esse livro merece uma sessão fotográfica só dele, e eu ainda irei fazer. Aguardem! rs

Mas uma vez ressalto o brilhantismo do autor. A cada livro que leio fico ainda mais encantada e amedrontada com essa mente perversa. Mas o ser humano é assim, não é? Por mais macabra que as histórias possam parecer, nada mais é do que a demonstração do caráter humano e do quão baixo nós podemos ir para atingir nossos objetivos.

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