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A Cidade Murada - Ryan Graudin

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Título: A Cidade Murada
Autor(a): Ryan Graudin
Editora: Seguinte
Nº de páginas: 400
Onde comprar: Submarino | Saraiva | Americanas
Nota: 

A Cidade Murada é um terreno com ruas estreitas e sujas, onde vivem traficantes, assassinos e prostitutas. É também onde mora Dai, um garoto com um passado que o assombra. Para alcançar sua liberdade, ele terá de se envolver com a principal gangue e formar uma dupla com alguém que consiga fazer entregas de drogas muito rápido. Alguém como Jin, uma garota ágil e esperta que finge ser um menino para permanecer em segurança e procurar sua irmã. Mei Yee está mais perto do que ela imagina: presa num bordel, sonhando em fugir… até que Dai cruza seu caminho. Inspirado num lugar que existiu, este romance cheio de adrenalina acompanha três jovens unidos pelo destino numa tentativa desesperada de escapar desse labirinto.

Dai, Jin Ling e Mei Yee, três jovens que têm suas vidas entrelaçadas na busca pela sobrevivência.

Fome se aproveitando de fome.

Hak Nam é uma favela vertical, uma cidade dentro de outra cidade, onde a lei que impera é a do mais forte e os juízes são os traficantes. Localizada onde, na época da guerra, existiu um forte, o lugar cresceu de forma desordenada, construindo casa em cima de casa, até que a luz do sol não conseguisse atravessar seus muros. Se você tem o mínimo de consciência, ficaria longe daqueles portões, mas às vezes a vida não deixa escolhas.

Há dois anos, Mei Yee foi levada para trabalhar no principal bordel da cidade. Aquela noite mudou também a vida da sua irmã mais nova. Jin Ling não aguentou vê-la sendo levada pelos Ceifadores e, montada na sua bicicleta velha e enferrujada, os seguiu até onde pôde. Apesar de perder o rastro, sabia que a irmã fora levada para dentro daqueles portões. Sua vida era difícil nos campos de arroz, porém era melhor do que o inferno que pelo qual estava passando. Mas ela era forte, procuraria pela irmã até o fim de seus dias.

Dai nunca teve o que reclamar da vida que lhe foi proporcionada. Até o dia em que tudo deu errado, quando se transformou no cara misterioso e amargurado que vive trancafiado em Hak Nam. Ele sabe que é melhor não se esgueirar para fora do velho portão sul, não até conseguir o que estão lhe pedindo. É arriscado, mas foi a melhor chance que surgiu, a única que lhe permitirá parar de se camuflar entre becos e famintos. Mas seu prazo está acabando... restam apenas dezoito dias.

Então o que é minha liberdade? Minha fuga? O que vai me curar?

Comecei a leitura esperando uma distopia, talvez por isso tenha me surpreendido tanto ao ver tanta realidade nessas páginas. O livro é narrado em primeira pessoa, de forma intercalada entre os protagonistas. Não há capítulos, e sim a contagem regressiva para que os dias de Dai se esgotem. Ryan Graudin possui uma escrita fluida, que desperta a curiosidade do leitor deste a primeira página. Ela conduz a história num ritmo acelerado e rico em detalhes, mas achei que foi tudo muito linear. Há emoção, mas faltou aquele momento em que o leitor prende a respiração enquanto lê os parágrafos seguintes.

Hank Nam pode ser uma cidade fictícia, mas sua inspiração é bem real. Kowloon foi a Cidade Murada de Hong Kong e chegou a abrigar 33 mil pessoas dentro dos seus míseros 0,3 km². Digo isso no passado porque no final da década de 80 se iniciou um processo de desocupação que durou mais de cinco anos. Em seu lugar foi construído o Kowloon Park, onde podemos encontrar um pouco de história como os restos do portão sul e um maquete da Cidade Murada.

É impossível não ver a Cidade Murada. Os apartamentos se empilham feito tijolos toscos. Todos cobertos por grades. Jaulas em cima de jaulas.

Em uma nota no fim do livro, a autora demonstra que fez uma vasta pesquisa acerca dos costumes e tradições locais, mas pouco disso esteve presente no livro. Percebi a ambientação pelo nome dos personagens e pela constante referência a comidas tipicamente orientais, mas isso não foi o suficiente para me inserir nesse mundo. Tanto que tive dificuldades para imaginar os personagens. A história é incrível, mas poderia estar acontecendo em um favela no Rio de Janeiro... Gostaria de ter visto mais China!

Apesar de ter lido a prova, tive um ótimo panorama do trabalho gráfico que está por vir. Se as 400 páginas lhe assustam, pode respirar mais aliviado. As margens são bem largas e caso fossem retiradas, ele se tornaria um livro com o padrão menor. A capa é uma arte à parte. Quem olhar com atenção, irá encontrar o que seria uma visão de Raio-X dos apartamentos da cidade. Tudo muito empilhado, bagunçado.. e há pessoas! Não sei quem foi o capista, mas merece aplausos pela criatividade e percepção nos pequenos detalhes.

Talvez não fossem os blocos de cimento e o lixo que Sing adorava. Talvez fosse a possibilidade, o conhecimento de que o universo não é feito só de fumaça de ópio, e homens suados e rabugentos. Existe sim um mundo lá fora [...]. Um lugar onde chove e meninos bonitos sujam as mãos. Um lugar onde o mar se estende até o céu.

Dentre os assuntos abordados temos o trafico de pessoas, prostituição e amor, além de uma forte critica social a tudo que acontece dentro de uma favela, esteja ela na China, no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo. Uma mensagem? Todos merecem uma segunda chance. A chance de ser feliz.

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